12 de jun. de 2019

Sobre As Coisas Que Não Digo

Eu não digo nada, mas se eu conseguisse dizer, diria que sinto muito.
Sinto muito pela piada tosca feita quando quis correr de demonstrar sentimento por medo de parecer frágil.
Sinto muito pela expressão séria quando o seu olhar doce me penetrou a alma -por dentro eu tremi.
Sinto muito pelas vezes em que falei de outros para te cortar tentando compensar os cortes que você tinha me feito.
Sinto muito por ter criado, para você, a ideia de que a minha pele era tão grossa a ponto de te fazer achar que eu era incapaz de sentir dor.
Sinto muito pelas vezes em que eu disse não sentir nada enquanto eu sentia tudo.

Eu não digo nada, mas eu queria dizer.
Queria dizer que quando eu repousei a cabeça no seu peito, o mundo pareceu seguro de novo.
Queria dizer que com você tudo que eu quero é uma mochila e uma passagem de trem para qualquer lugar do mundo.
Queria dizer que quando eu olho para você, consigo te ver me encarando com os olhos mareados no altar enquanto eu infarto num vestido bufante e apertado.
Queria dizer que eu quero tudo contigo e em ti, e que a palavra amor nunca soou tão apetitosa aos meus ouvidos até te conhecer.

Queria dizer, mas não posso.
Queria dizer que eu garanto não trabalhar aos finais de semana para ser sua companheira fiel de mesa de bar, parceira de churrasco e torcedora mais entusiasmada na plateia do jogo de futebol.
Queria dizer que posso aprender a cozinhar e a fazer petiscos para quando seus vierem jantar em casa.
Queria dizer que meu ombro já está curado e além de pole dance estou com uma vontade danada de fazer aulas de chair dance também, e de funk -para aprender a rebolar.
Queria dizer que meu coração é teu, meu peito é teu, minha essência é tua, minha...

Mas eu não digo e deixo para lá, porque eu ainda sou de carne e osso e medo -do que você pode ter a dizer-; quem sabe num talvez bem distante eu me permita e rasgue a armadura que me reveste para eu desnudar frente a você mais que só meu corpo.
Quem sabe um dia eu diga, quem sabe não. 
Quem sabe você descubra, quem sabe não.
Quem sabe você já não saiba, quem sabe não.


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