19 de ago. de 2018

Sobre a Presença

E achei que ser adulta seria diferente. Eu imaginava um mundo onde não existissem dúvidas ou medos, onde eu seria segura e autoconfiante, não seriam mais necessários os conselhos da minha mãe e o dinheiro rendesse.
Cá, desse lado da história, onde eu sou agora o que chamam de uma jovem adulta, as coisas são bem diferentes.
Eu tenho questões adolescentes , inseguranças de criança e contas de gente grande. 
Meu cérebro não aceita o fato de que vários amigos do colégio estão olhando anúncios nos jornais e na internet de casas para aluguel e venda; que estão fazendo testes bet-hcg e felizes com o resultado positivo; que de livre e espontânea vontade estão pagando uma taxa no cartório para marcarem casamentos no civil e depois indo a um cerimonialista e combinando detalhes sobre a cerimônia religiosa; ou partindo para viverem sozinhos em outro país; ou que estão se formando e escolhendo uma pós graduação; menos ainda que estão abrindo mão de dividir o sofá todas as noites com seus irmãos para dormirem sozinhos ou com alguém que não tem o mesmo sangue.
Como essas pessoas podem fazer isso ? Quanta coragem elas têm, eu sequer compro uma escrivaninha sem ajuda.
Até hoje, sempre que assisto aqueles comerciais de margarina eu me vejo mais próxima da criança em cena. E acredite, eu realmente ainda amo os desenhos matinais. 
No fundo acho que é medo. Eu tenho medo da decisão e do quão grande é o pulo que se dá entre ir e ficar, então até alguém que me obrigue a decidir, eu fico.
Em alguns dias, eu confesso, parte de mim é uma adulta e se reconhece mulher. Esses dias me assustam -risos- porque ali, sem roupas e deitada nos braços de algum cara -que antes de me tocar se dedicou incansavelmente a me convencer que não era um maníaco- eu percebo que além de toda essa carcaça dura há alguém que sente.
E nesses momentos, normalmente eu tomo a atitude mais infantil que alguém seria capaz de tomar... eu sumo.
Eu sumo dele para não sumir de mim. Porque ser adulta ainda é sobre presença, e essa me dá medo demais para arriscar. Talvez no meu aniversário de 22 ou quando ficar mais tranquilo e estável no meu emprego novo. Mas não agora.
Presença é sobre segurança emocional, sobre amor próprio que já se consolidou, sobre respeito por si mesmo e, principalmente, sobre ser capaz de enfrentar o medo de entregar seu coração nas mãos de outra pessoa. E acredite em mim, entregar o corpo e entregar o coração são coisas to-tal-men-te diferentes.
Quando você entrega o corpo, você recebe um corpo também. O foco ali quase nunca é amor, está mais para troca de fluidos. São duas pessoas que tem consciência sobre o que vai ser feito, quando será feito onde e por quê. Os planos são, para no máximo, alguns fins de semana adiante. Parceiros de cama não se planejam com anos de duração, ja parceiros de alma... planejam sim. Quando se entrega o coração, o peito fica leve e não há peso nas mãos de quem carrega, porque quase sempre, quem da também recebe. E as juntas dos dedos de um e de outro se unem e criam uma ligação tão forte onde ninguém nunca está abaixo. Não há ego. Não há competição. Não há nada além de presença.
Mas isso meus caros, é para guerreiros destemidos, eu ainda sou só uma garota que de tanto biotônico que tomou, de corpo cresceu.

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